* Por Ana Pinho
Para uma pesquisa global que levou em conta trocas de emprego anunciadas na plataforma entre dezembro de 2014 e março de 2015, o LinkedIn falou com mais de 160 brasileiros. O resultado impressiona: 59% dos entrevistados tem entre 18 e 35 anos, a chamada geração Milênio, e 39% trocaram não só de posto, mas de carreira.
Trata-se de uma mudança sincronizada com outros jovens pelo mundo. A questão da importância da diversidade de experiências e do trabalho como propósito de vida – assim como a ascendência de habilidades e profissões totalmente novas – é cada vez mais relevante.
O mercado, por sua vez, já responde a essa transição com novas estratégias de contratação, que levam em conta um currículo diverso como digno de avaliação ao invés de um sinal vermelho.
Marco Macedo, chefe da área de Recursos Humanos da Pearson no Brasil, entrevista cerca de 250 pessoas por ano. Para ele, o importante é mostrar consistência em sua trajetória, “principalmente no seu processo decisório”. Isso se traduz em experiências que fazem sentido umas com as outras, ao invés de desconexas.
Amandha Negro Cortes, superintendente de Recursos Humanos do Itaú, concorda. “Um ponto de atenção importante é que o currículo tenha passagens sólidas, com construções significativas e que mostrem o quanto evoluiu e cresceu profissionalmente ao longo do tempo”, diz. “Tendo este cuidado, com certeza esta experimentação é muito possível e a depender da forma de apresentar no currículo, a pessoa pode ainda se destacar positivamente por sair da zona de conforto e querer novos aprendizados ao longo da carreira.”
Para desenvolver um currículo diverso de maneira estratégica e consistente, Marco sugere três reflexões. A primeira é retrospectiva: pense nos passos que está dando e por que fazem sentido para você. Em seguida, olhe criticamente e considere se você vai fazer algo relevante naquele próximo emprego. Por último, procure ambientes que permitam a experimentação dentro de seus quadros – eles existem.
Questão de ciclo
É igualmente necessário explicar adequadamente os “pulos” entre um emprego e outro de maneira satisfatória. É algo que fica mais claro quando se pensa em termos de ciclos, seja um projeto de seis meses ou uma iniciativa de três anos.
“É o regar, crescer e colher: se você não é capaz de viver esse ciclo inteiro, com as dores e as alegrias, aí passa a ser demais”, resume Marco, que destaca a necessidade de demonstrar entrega e aprendizado na hora da entrevista. “É não ficar só na euforia de aprender, mas aprender a ter resultado e bater metas.”
Embora não exista tempo mínimo ou máximo ideal no Itaú, Amandha diz que sua equipe busca avaliar em detalhes o que foi construído em cada passagem e quais foram as contribuições individuais do candidato ao longo do tempo.
É aqui que é necessário prestar atenção no longo prazo: quanto mais tempo de carreira você tem, melhor precisa ser na hora de apresentar sua trajetória de maneira convincente. “Quando vejo alguém com dez anos de formação e oito empresas no currículo, fico assustado porque não estou contratando alguém por um verão”, admite Marco. Se o candidato parece bom no papel, no entanto, costuma ganhar a chance de se explicar pessoalmente. “Minhas entrevistas tem só uma grande pergunta: do dia em que você nasceu até hoje, o que aconteceu?”, diz ele.
E não adianta inventar na hora. “Um currículo inconsistente e que de alguma forma tenta manipular ou vender uma ideia diferente do que é, se não identificado nesta etapa, é facilmente percebido na entrevista”, alerta Amandha, que aconselha transparência e honestidade. Dentro do próprio banco, trocar de áreas internamente é algo bom profissionalmente, desde que a troca seja acordada com gestores. “Esta movimentação é vista de forma positiva na linha de que há busca pelo novo, saída da zona de conforto e protagonismo de careira.”
Definições
Marco é, ele mesmo, um exemplo de diversidade. Formado em engenharia mas desencantado com a profissão, tornou-se trainee da Ambev. Ao longo de dez anos na empresa, passou pelas áreas de vendas, marketing, trade, inteligência de mercado e gestão de pessoas antes de assumir o cargo de gerente comercial.
Em 2013, foi convidado para dirigir o departamento de gestão de pessoas do Grupo Multi, mais tarde adquirido pela Pearson, onde está hoje. “Eu nunca deixaria cinco anos da minha vida definirem o que vou fazer nos próximos quarenta”, resume.
Entre os maiores ganhos de quem busca trabalhos diferentes, para ele, estão a empatia e a complementaridade. Ter experiência com vendas pode ajudar a entender o que está acontecendo quando você estiver na área financeira ou de operações, por exemplo. E isso cria, por si só, um profissional melhor e valioso.
Seu conselho mais contundente tem contornos mais profundos, que envolvem refletir sobre a natureza do trabalho em si. Afinal, como as pessoas trabalham durante grande parte da vida, é natural que, dada a oportunidade, escolham cada vez mais uma experiência digna e interessante e não apenas um holerite.
“As pessoas nos procuram dizendo que querem trabalhar com engenharia, finanças ou logística, mas no fundo o que importa é o ‘como’”, diz. “Como as pessoas se relacionam, como o negócio é gerido – são essas as coisas que preenchem sua vida.”
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