04 agosto, 2016

RH como parte da estratégia do negócio*

* Por Cris Olivette

Com foco no resultado, o 'novo recursos humanos' trabalha para que as empresas alcancem efetivamente seus objetivos de crescimento


Departamentos de recursos humanos de várias empresas estão tendo o status da área elevado nos organogramas das companhias com a adoção da denominação: RH Estratégico. Na prática, o que isso significa?

Segundo a consultora do grupo Bridge, Fernanda Macedo, isso quer dizer que essas empresas têm uma estratégia de RH a serviço do negócio, facilitando a realização da estratégia da empresa, sustentando a cultura organizacional, ou facilitando a transformação dessa cultura.

“Essas ações são efetivadas por meio de ferramentas, processos e ações aplicados no cotidiano, com o objetivo de sensibilizar e engajar as pessoas na direção que a empresa deseja. Quanto mais direcionado para suportar a estratégia, mais estratégico será o RH”, diz.

A vice-presidente de RH da DM9DDB, Maria Eduarda Lomanto, afirma que o maior ativo de uma empresa são as pessoas. “Um RH estratégico participa do processo decisório do negócio, cuida para que as decisões sejam as melhores para as pessoas e alinha os valores da organização com os valores dos colaboradores. Esse profissional é o guardião da cultura organizacional, mola propulsora das companhias”, diz.

Fernanda lembra que antigamente o RH atuava em sua rotina e era acionado em ações pontuais para resolver problemas desconectados da estratégia organizacional. “Hoje, o que percebo em negócios que adotaram RHs estratégicos é uma atuação direta na transformação da empresa, facilitando a execução da estratégia organizacional”, afirma.

Segundo ela, nesse novo formato o RH participa das mudanças organizacionais e ajuda a construir cenários, apresentando tendências e soluções inovadoras. “Este profissional tem um papel importante nas conexões entre as áreas, potencializando os resultados através das pessoas. O grande diferencial do RH tradicional para o estratégico é que o segundo faz parte da transformação e é reconhecido por potencializar os resultados através das pessoas.”

Esse profissional, conforme Maria Eduarda, deve ter perfil de negócios sem perder a sensibilidade de perceber a individualidade de cada ser humano, dotado de sonhos e frustrações.

“O profissional estratégico de RH deve ter o olhar no negócio, foco no resultado, visão sistêmica, habilidade política, excelente relacionamento interpessoal, saber ouvir e ter compaixão. Tem de amar o que faz.”

A coordenadora do MBA Executivo em Economia e Gestão: Recursos Humanos, da Fundação Getúlio Vargas, Denize Dutra, afirma que o objetivo da formação é levar o aluno a assumir posições estratégicas na área de RH e fazer com que ele possa contribuir com os objetivos de alcance da organização.

“Queremos que esse profissional saia do curso propondo políticas, diretrizes e práticas de RH que a empresa vai utilizar para atingir seus objetivos estratégicos. Sempre com a preocupação de dignificar essa relação do homem com o trabalho. Queremos que ele seja um profissional propositivo.”

Entre as disciplinas aplicadas ao longo dos 18 meses de curso, ela cita macroeconomia, sustentabilidade, governança, estratégia e finanças. “Eles têm uma ampla compreensão do mundo corporativo para poder perceber de que forma o RH pode contribuir. Vemos que ocorre uma grande mudança no modelo mental dos alunos e a progressão de carreira é significativa.”
Perto de concluir o MBA, o coordenador de RH da área de diversidade do Walmart Brasil, Djalma Scartezini, conta que teve duas promoções após ter iniciado o curso.

“O MBA está sendo crucial para que eu cresça na carreira. Adquiri competências técnicas, comportamentais e postura. Hoje, meu trabalho faz parte da estratégia da companhia e as entregas ajudam a empresa como um todo”, afirma.

Scartezini conta que o curso foi além do esperado. “Claro que o ferramental é importante, mas tem também o intangível, que é a forma crítica de raciocinar as questões de RH. O raciocínio crítico e estratégico pode ser muito mais importante do que a execução de uma tarefa operacional. Ganhei essa visão por meio de debates muito ricos. Os professores são profissionais do mercado e têm experiência prática e a troca entre os alunos é muito rica também.”

O aluno conta que o tema de seu TCC é relativo ao retorno do investimento obtido com trabalho de diversidade estratégica. “Quero provar por meio de dados científicos como o RH traz lucro. O RH costuma ser visto como uma área que não agrega valor ao negócio. Hoje, é possível provar que a área traz lucro. Ao fazer, por exemplo, trabalho de inclusão de deficientes, evito uma série de multas. Assim, trago de volta dinheiro para a companhia”, diz.

Consultor de carreiras da Thomas Case & Associados, Eduardo Bahi diz que em tempos de mercado globalizado e competitivo, o RH teve de se tornar uma área estratégica.

“Alcançar metas e resultados é uma cobrança constante e se reflete diretamente nas decisões que são tomadas pelos gestores. Então, desenvolver competências organizacionais para atrair e reter talentos e pessoas de alta performance, além de construir um ambiente de trabalho desafiador e melhorar o clima organizacional passaram a ser objetivos do RH.”
Segundo ele, um RH estratégico pensa nas competências de um profissional contratado e quais competências terá de ter no longo prazo, enquanto o RH tradicional desenvolve pessoas para necessidades atuais.

“O novo RH entende o modelo de gestão por competências alinhadas aos desafios estratégicos da companhia, posicionamento de mercado, planejamento estratégico, inteligência competitiva, cadeia de valores, entre outros. Este tipo de profissional, em meu ponto de vista, tem de ser moldado pela empresa, que deve fazer com que ele assimile sua missão e valores”, diz Bahi.

Consultora do grupo Bridge, Fernanda Macedo acredita que além dos cursos de MBA, os profissionais também devem buscar qualificação por meio de relacionamentos, contatos e trocas de experiências.

“Na Bridge, por exemplo, trocamos experiências com muitos profissionais de RH estratégico para que tenhamos maior prontidão para lidarmos com tanta volatilidade, incertezas, ambiguidade e inseguranças que o contexto apresenta. Uma rede conectada com pessoas que experimentam as mesmas dores, incertezas e desafios, mas também conquistas e sucessos, facilita o ganho de maturidade e desempenho do profissional”, avalia.

Segundo a coordenadora do MBA Executivo em Economia e Gestão: Recursos Humanos, da Fundação Getúlio Vargas, Denize Dutra, a formação atrai principalmente profissionais que já atuam na área de RH e querem passar por reciclagem para obter um olhar estratégico e atuar de forma menos operacional. “Mas também é procurado por pessoas que já têm experiência gerencial em outra área e quer migrar para a área de recursos humanos.”

Mesmo não tendo a intenção de migrar de área, a gerente regional de vendas da rede Marisa, Priscila Nascimento, sentiu necessidade de incrementar seus conhecimentos com um curso que valorizasse a visão estratégica, porque em sua atuação como gerente regional de vendas também faz a gestão de pessoas.

“Os resultados das empresas são obtidos por meio de pessoas. Indubitavelmente tenho de aplicar metodologias de gestão estratégica em minha rotina de trabalho. No MBA, adquiri conhecimentos mais amplos porque o curso contém disciplinas de negócios nacionais e internacionais, além de proporcionar um bom networking e maturação em termos de gestão de pessoas”, diz.

Priscila destaca que o curso aborda outras frentes que envolvem a área de RH estratégico como desenvolvimento e gestão de pessoas, definição de potencial, gestão de competências e definição de perfil adequado para cada função. “No meu dia a dia lido com isso intensamente”, afirma.

A gerente acrescenta que a formação fortaleceu sua percepção e capacidade de diagnóstico. “Também ampliou meu olhar do ponto de vista estratégico em relação à atuação de pessoas e do negócio”, diz.

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