02 junho, 2016

‘A paixão pelo que você faz envolve a equipe’*

* Por Claudio Marques


O espanhol Fernando Apezteguia, hoje com 45 anos, é graduado em economia pela Universidade de Deusto, em Bilbao, no País Basco. Em seguida, emendou uma pós-graduação em finanças na Universidade de Pepperdine, na Califórnia, Estados Unidos, onde acabou iniciando sua carreira. Primeiro numa empresa de medicina nuclear, depois na área financeira do American Express. Precisou voltar para a Espanha, por questões familiares. Lá, trabalhou na área financeira da tradicional varejista El Corte Inglés. Mas estava insatisfeito e aceitou o convite de uma colega para ir para a DRM Consulting. Foi uma escolha acertada. Está há 16 anos na empresa, que em 2006 passou a se chamar Everis. A consultoria é especializada em negócios e tecnologia. Na companhia, Apezteguia já atuou como consultor na área bancária na Espanha, Chile, Brasil – durante três anos –, Inglaterra e Alemanha. De volta à Espanha, em 2008, recebeu um convite que marcou uma virada em sua carreira. Montar uma filial da Everis em Bilbao. Deu certo – gostou tanto da experiência, que se refere ao escritório de filho. Há um ano, voltou ao Brasil, agora como CEO da empresa, que tem 13 mil funcionários nos 13 países onde atua, faturou ¤398 milhões no último ano fiscal, sendo que ¤ 52 milhões vieram no Brasil. A seguir, trechos da conversa.

O desafio
Em 2008, a companhia me deu um desafio completamente novo para mim: a implantação de uma filial da empresa no norte da Espanha, em Bilbao. A região sempre foi uma das mais ricas, com grandes empresas, mas não tínhamos presença lá. Eu fui. Foi uma mudança muito grande para mim, porque eu sempre tinha trabalhado com banco, e agora era para trabalhar com setores desconhecidos como o setor público, a indústria de manufatura e de saúde, mundos completamente diferente. Foi um aprendizado muito legal. Foi uma das experiências mais lindas que já tive na vida e ao mesmo tempo uma das mais complicadas, porque implicava desde conseguir uma sala para trabalhar, contratar o primeiro funcionário e tudo mais. É como se fosse seu filho.

Novas responsabilidades
Passei quatro anos em Bilbao. Com um crescimento legal, eu deixei aquele meu filho e comecei a tomar outras responsabilidades dentro da empresa e virei responsável global pelo setor de bancos. Hoje, temos escritórios na Europa, Espanha, Portugal, Itália, Bélgica, Inglaterra e no continente americano indo desde Chile, Argentina, Brasil, Colômbia, Peru, México e Estados Unidos. Fiquei três anos no posto, e há um ano tive a oportunidade de voltar ao Brasil como responsável pela operação local. Foi um presente da vida, porque eu havia tido uma experiência muito boa naquela época em que morei três anos aqui.

Risco e avaliação
Às vezes é melhor não avaliar demais os riscos, porque se você avalia demais, você não faz as coisas. Se eu houvesse avaliado, naquela metodologia super perfeita de avaliação de risco, provavelmente eu não teria ido para Bilbao. E foi ótimo. Foi uma experiência super boa e com um resultado ótimo para a empresa e para mim.

Paixão
Quando você tem vontade, tem paixão por fazer as coisas, você não só se envolve, mas também envolve as pessoas a sua volta, isso é muito importante. Penso que eu tenho essa qualidade. Às vezes eu sou muito chato, eu sei, mas quando vejo uma coisa e entendo as suas possibilidades, eu me motivo muito, fico muito empolgado e levo as pessoas a fazerem isso também. Assim é como eu me avalio, não sei como a empresa me avalia.

Outras culturas
Trabalhar em outros países enriquece muito. Você aprende a lidar com culturas diferentes mesmo pensando que são muito similares. O jeito de pensar, de trabalhar, de se relacionar, de fazer negócios. Coisas tão simples tais como quando falar de negócios durante um almoço, no início ou no final? Existem diferenças de approach, de como você leva uma reunião. Os tempos nas decisões são diferentes nos diferentes países. Isso tudo enriquece muito e abre a cabeça para você olhar uma realidade sempre de diferentes pontos de vista. E uma das coisas, que provavelmente seja resultado de tudo isso, é que eu não tenho certeza de nada. Porque uma realidade pode ter diferentes visões. Isso eu acho que é o grande aprendizado. E, sem dúvida, acho que ajuda muito em tudo na vida.

Brasil
Penso que não só no Brasil, mas mundialmente, estamos numa mudança de era. Por exemplo, a tecnologia está fazendo com que a população peça transparência. É transparência com o governo, com o banco, com o plano de seguro, com tudo. Isso está levando a que todos os modelos que existem sejam questionados. Então, temos de mudar e as empresas têm de mudar. E o Brasil está no meio de uma mudança mundial, de era, e ao mesmo tempo em uma mudança por causa da crise. É um momento super interessante. Existem muitos talentos aqui no Brasil, há pessoas com ideias muito boas, que estão fazendo mudanças super interessantes e eu acho que o momento é muito legal no País, apesar da crise.

O profissional
Para enfrentar esse quadro, o profissional precisa de mais flexibilidade. Esse negócio de ‘eu sou treinado para fazer X e sempre vou fazer esse tipo de trabalho’, é preciso se formar para ter mais flexibilidade. Sem dúvida, devemos ter uma atualização total em ferramentas tecnológicas para entender esse novo mundo que vai mudar nossa realidade de trabalho. Tudo isso requer mais flexibilidade – é o desafio de nós todos. No meu caso, eu tenho de me adaptar muito. Provavelmente, as novas gerações, não. Já estão crescendo e se formando em uma realidade diferente. Mas para nós era um pouco ‘você se forma para fazer um trabalho e você vai fazer esse trabalho a vida inteira.’

Colaborador
Eu quero pessoas empolgadas, que vão ficar apaixonadas pelo que vão fazer. Esse para mim é um dos ingredientes mais importantes. Sem dúvida, capacitação, e essa flexibilidade. E pessoas com paixão. E eu encontro muitos talentos desse tipo aqui no Brasil.

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