* Por Claudia Gasparini
Qual tipo de profissional tem mais chances de atrair um recrutador: um profundo conhecedor de uma área bastante específica ou um “pau para toda obra” com perfil generalista e versátil?
Um estudo conduzido por pesquisadores da Columbia Business School e da Tulane University dá uma resposta categórica à velha dúvida. “Os especialistas são definitivamente castigados pelo mercado”, diz uma das responsáveis pela pesquisa ao Harvard Business Review. “Além de receberem menos ofertas de emprego, eles ganham bônus menores”.
Para chegar ao resultado, os estudiosos acompanharam cerca de 400 estudantes que se formaram nos melhores MBAs dos Estados Unidos entre 2008 e 2009 e seguiram carreira em bancos de investimento.
A amostra foi dividida em dois. O grupo dos especialistas era formado por pessoas que já trabalhavam com investimentos antes do MBA, fizeram estágio na área e se aprofundaram em finanças.
Já a turma dos generalistas consistia naqueles que atuaram em outras áreas antes do curso, como publicidade, fizeram estágio em uma consultoria e só mais tarde foram para o mundo dos investimentos.
Resultado: os bônus recebidos pelos especialistas eram até 36% mais baixos do que os de seus colegas generalistas. Em alguns casos, o primeiro grupo ganhava até 48 mil dólares a menos por ano.
Mas por quê?
Segundo Jennifer Merluzzi, professora na Tulane University e coautora do estudo, o problema está na oferta excessiva de programas de especialização, em especial de MBAs.
“Os cursos dão uma forte ênfase à formação de uma pessoa de finanças ou uma pessoa de marketing, o que produz muitos profissionais parecidos no mercado”, diz ela ao HBR.
Ironicamente, o especialista vira “commodity”: como há muitas pessoas com foco exclusivo em uma área no mercado, aqueles que trazem um repertório mais amplo e eclético saltam aos olhos das empresas.
Merluzzi afirma que recrutadores ouvidos pelo estudo não esconderam sua preferência pelos generalistas. Profissionais com experiências e competências diversas são mais interessantes do que aqueles que só conhecem um ângulo do trabalho, disseram eles.
É claro que, em algumas áreas, ser especialista é uma enorme vantagem competitiva. “Se alguém precisa de um cirurgião para uma operação arriscada, por exemplo, é óbvio que vai querer um expert que já fez isso centenas de vezes”, diz a professora. “No mundo dos negócios, porém, a especialização não é tão benéfica”.
No futuro, diz Merluzzi, os generalistas continuarão a ter mais chances nas empresas porque têm habilidades diversas, podem ser transferidos para outras áreas e tendem a assumir posições de liderança mais rapidamente.
Generalista, não “superficialista”
Outro estudo, lançado recentemente pela firma de inteligência de mercado IDC em parceria com a Microsoft, vai na mesma direção.
Conduzida nos Estados Unidos, a pesquisa analisou mais de 76 milhões de vagas de emprego para selecionar aquelas que teriam maiores salários e melhores condições de ascensão profissional entre 2016 e 2024.
A conclusão é a de que as oportunidades mais promissoras exigem competências multifuncionais (“cross-functional”, no original em inglês), em detrimento de habilidades técnicas ou específicas — e isso em áreas tão diversas quanto TI, direito e saúde.
Segundo Pietro Delai, gerente de pesquisa da IDC Brasil, os requisitos dos melhores empregos incluem excelente comunicação oral e escrita, capacidade de filtrar e processar múltiplas fontes de informação e pensamento lógico aplicado à análise de probabilidades.
“As habilidades exigidas pelos melhores empregos trespassam diversas ocupações (...). Por outro lado, competências específicas são menos aplicáveis e deveriam receber menos ênfase no currículo das escolas”, aponta o estudo.
Isso não significa que a profundidade seja dispensável. “O tipo de generalista que se dá bem não é o ‘superficialista’”, diz Delai. “Ele precisa ter a capacidade de se debruçar sobre um problema, ir a fundo na investigação de hipóteses e buscar pessoas que ajudem a resolver aquela questão, inclusive especialistas”.
Profissionais com habilidades multifuncionais, aplicáveis a uma vasta gama de situações, também são candidatos naturais à liderança.
“O que vemos na crise é que muitas empresas demitem os especialistas, contratam terceiros para substituí-los e colocam um generalista para administrar os fornecedores”, afirma Delai. "Elas preferem entregar o comando a quem tem uma visão sistêmica e multidisciplinar".
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