Após um sábado intenso, em busca de notícias sobre Roland Ratzemberger até a certeza de sua morte, acordei naquele domingo faltando 10 minutos para a largada, com o meu pai ao lado da cama dizendo, já começou a transmissão e a volta de apresentação. Foi o tempo de pular da cama e correr para a sala, onde costumeiramente víamos a corrida.
O clima era estranho pelos acontecimentos ocorridos no dia anterior. Falava-se muito de Barrichello e de Ratzemberger. O rosto de Senna era focalizado e seu olhar ficava perdido, ao olhar para o infinito. É dada a autorização para a volta de apresentação. Começamos a nos ajeitar na cadeira e torcermos para que esta corrida fosse a da virada, que a partir de Ímola voltássemos a ver Senna vencendo novamente.
Os carros alinham. A largada. Senna larga bem. Os carros vão saíndo. Menos a Benneton de J. J. Letho. A batida. Destroços de carro voando para todos os lados. O pneu vou para a arquibancada. Susto. Safety-car. Apreensão. Voltas e mais voltas em ritmo lento. Vai começar novamente, informa Galvão Bueno. Os carros largam. Senna sai na frente novamente. Mal sabíamos que veríamos sua última volta. Cruzam a linha de chegada, vem a Taburello. A batida. Galvão Bueno grita, Senna bate forte! Todos esperam um sinal. O resgate demora uma eternidade para chegar. Gritamos junto, cadê o resgate? Cadê o resgate? Olho para meu pai e meu irmão, apreensão. Senna não se move. Angústia. Sua cabeça mexe. Começo a gritar de alegria: ele está vivo! ele está vivo. Meu pai começa a chorar. O resgate chega, a poça de sangue demostra que a situação é grave.
A corrida recomeça e com ela a busca por notícias. Enquanto todos vão tomar banho, fico com o ouvido grudado no rádio do meu quarto, a Jovem Pan estava com link aberto, passando todas as informações direto do hospital para onde Senna fora levado. Puta que pariu. Nenhuma notícia nova. Derrepente a primeira informação. Senna está em coma profundo. Não sei o que é isso, pergunto ao meu pai. Ele começa a falar que o que é e que as chances dele sobreviver são poucas.
O silêncio pairava no carro, a caminho da casa de minha avó. O som do rádio, sintonizado com as informações deixava todos apreensivos. Coma profundo e estado muito grave. A cada minuto, as notícias iam chegando e sempre com um clima de desolação no ar. A cada instante seu quadro piorava.
Começamos o almoço familiar. Plantão da Globo. Todos correm para a frente da televisão. Morreu Ayrton Senna da Silva. Uma notícia que nunca agente gostaria de dar. Morreu Ayrton Senna. Tristeza. Engulo o choro por alguns instantes. Vou para o quarto da minha avó. Choro baixinho para que ninguém ouvisse. A noite, em casa, a TV não cessava e o choro era intenso.
A dor, a perda, nunca havia se feito de maneira tão forte.
Eu perdia, naquele instante, um idolo. Perdia-se parte das alegrias das manhãs de domingo. Ficava a saudade e as lembranças das vitórias.
Valeu Senna!
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