21 julho, 2016

Por que você não arruma emprego*

* Por Caio Camargo

Será que é só um problema do mercado? O que você pode fazer a partir de hoje para nunca mais passar por essa situação?

Que vivemos tempos difíceis não é nenhuma novidade. Um verdadeiro colapso político-econômico trouxe como um de seus grandes impactos o desemprego, resultado principalmente de uma população que hoje produz e consome muito abaixo da demanda, criando um efeito que costumo chamar de “espiral negativa”.

Numa sucessão de problemas, o receio hoje do consumidor em comprar bens e serviços, por conta de confiança em relação ao emprego e seu dinheiro, está fechando postos de trabalho em todos os setores, que por conta de uma demanda reprimida, têm sua produção e esforços reduzidos, levando à um cenário de ainda mais demissões. No jargão popular, falta cada vez mais dinheiro circulando na praça. Pior cenário impossível.

E mesmo que algumas previsões apontem uma melhora de cenário possivelmente a partir de 2017, a grande maioria dos brasileiros hoje sofre com uma grande taxa de desemprego, e não dá para a grande maioria esperar até lá para conseguir um novo trabalho. Não vou entrar no mérito das questões de auxílios sociais e da dependência destes, em minha opinião, um dos grandes responsáveis pela queda abrupta de consumo e por consequência, a criação de todo esse cenário.

Esse artigo é para você, que está batalhando em busca de um emprego, em busca de algo melhor para você e sua família. Penso em dividir algumas experiências e conselhos com vocês, os quais espero que sejam úteis de alguma maneira.

Mais do que a situação que talvez você ou um conhecido seu esteja vivendo, quero que além dessa questão pontual, você se torne o grande maestro de seu futuro daqui para a frente e que crise nenhuma jamais lhe derrube novamente.

E acredito que a gente deve começar exatamente por aí, discutindo o seu emprego e seu futuro. O que é um emprego hoje? Um emprego de maneira alguma pode ser apenas um porto seguro, uma garantia de um salário no final do mês. Seria muito bonito eu falar que você deve desde o começo de sua carreira buscar de fato entender qual seu rumo, desenhando qual seu futuro e suas possibilidades, e dentro disso, como você irá criar suas oportunidades. Mas isso hoje é utopia de capa de revista.

É fato que você precisa de um plano, mas é fato que do jeito que está, não está dando para escolher muita coisa...é como chegar para fazer compras no fim da feira. Então como lidar com o desespero de se empregar novamente, de voltar para o conforto de uma CLT, ou de voltar para o mar, como eu gosto de usar em uma metáfora, uma vez sempre digo que primeiro a gente cai na água, depois escolhe o barco.

Eu acredito que um dos primeiros problemas do brasileiro para com o mercado de trabalho não está na formação, mas na criação, e aí que mora o problema de muita gente. Eu me recordo que quando era adolescente, havia apenas três opções de futuro: Ou você entrava em um concurso público, ou você trabalhava em uma multinacional ou ainda virava “doutor” (sim, pois carreira de profissional liberal que não tivesse o doutor antes do nome não valeria a pena). Qualquer outro caminho que não fosse um desses três, salvo algo como “herdar ou trabalhar no negócio que a família” era visto por nossos pais como um caminho de dificuldades. Havia pouco incentivo. Fomos criados lá trás para buscarmos profissões baseadas em pouco trabalho, alta remuneração e estabilidade, algo que hoje é até mesmo mais valorizado do que os outros dois anteriores....

Ou você não conhece alguém que se confortou com o “ganho pouco, mas tenho estabilidade”? Ou o “é puxado, mas não perco o emprego nunca”!

Se observarmos a geração de hoje, sejam eles millenials, geração z, ou até mesmo a “molecada” como pejorativamente falamos, estes vêm conseguindo cada vez mais encontrar novas oportunidades de remuneração e trabalho exatamente por entenderem os novos caminhos do emprego, baseados em modelos de empreendedorismo e empoderamento, dependendo cada vez menos de empresas e cada vez mais de apenas si mesmos para construírem o que quiserem no mundo. O mundo para eles é um campo aberto de possibilidades, e não algo onde tenha que ser construída uma “carreira”.

Até porque quando hoje falamos em carreira, há anos o modelo de entrou-na-empresa-como-office-boy-e-saiu-presidente-vinte-anos-depois está cada vez mais distante da realidade que vivemos. Se ainda é possível pensar em carreira, hoje ainda é mais fácil galgar novos patamares trocando de empresas do que buscando oportunidades dentro de uma mesma empresa.

Se voltarmos ao exemplo da “molecada”, veremos que estes já não buscam mais as patentes que eram importantes no passado, até porque no total empoderamento de suas personalidades, ser um C-Level como um CEO, COO, CFO, é hoje algo simples e pouco valorizado. O mundo das startups está repleto de CEO’s jovens, com uma maturidade em negócios muito menor quando comparado à um CEO de uma grande companhia. Hoje está provado que o modelo é mais do que o ter, é o ser. O que se constrói ou se construiu será sempre mais valorizado do que sua função.

Dentro de todo esse cenário, vejo gente que vem perdendo seus empregos não somente por conta de crises, mas por conta do risco de extinção de suas funções. Usando como metáfora o exemplo o Carlitos, personagem de Charles Chaplin em “Tempos Modernos”, mesmo que você fosse o melhor “apertador de parafusos” que já se teve notícia, a busca por produtividade, menores custos, ou até mesmo o momento do mercado podem criar processos e situações onde sua função ou até mesmo o completo modelo de negócio que você atua sejam extintos.

Dessa forma, não há outro caminho para você fugir do desemprego do que senão o de EMPREENDER-SE. Independente se você hoje se encontra empregado ou desempregado, se parece novo ou velho para o mercado, se te julgam como despreparado ou defasado, eu penso que apostar em você mesmo é a única opção que você tem se deseja continuar com força em seu mercado.

É difícil escrever pensando em situações comuns a todos, do empregado do chão de fábrica ao diretor, do lavrador ao fazendeiro, mas acredito que em linhas gerais as questões abaixo funcionem para todos:

1) Networking

Em linhas gerais, com quem você conversa. E uma frase que também já se tornou um dos meus bordões: “Menos networking, mais networth”, um trocadilho em inglês sobre buscar criações que realmente façam algum sentido em sua carreira. E não se prenda apenas a buscar pessoas pares ou acima apenas. Todo mundo pode agregar algo a alguém. Toda nova conversa pode ser um novo aprendizado.

2) Leia

Quem lê expande seus horizontes! Se você acha “chato” ler, entenda a leitura como o cinema: talvez não tenha encontrado o tipo certo de filme (no caso livro) que você goste! E óbvio, troque um pouco as redes sociais ou os sites de fofocas ou futebol, ou pelo menos inclua sites de notícias e informações, tanto de seu mercado, quanto do mundo em geral, em sua leitura diária. Leia mais e se torne interessante!

3) Parla!

Quem é você em seu mercado? Você é mais “boca” ou é mais “ouvido”? Crie uma opinião. Divulgue-a. Use seus perfis nas redes sociais, troque e-mails com seus amigos, crie artigos, faça um blog; se não for da escrita, crie um vídeo; se não for do vídeo ou da escrita, crie um podcast, mas você só será notado se fizer ser notado. Resumindo: Faça barulho! Se não acredita que possa criar uma opinião dentro de algo sobre sua carreira, então talvez entenda porque hoje tenha tanta dificuldade em conquistar um novo emprego. Se nem você acredita em você mesmo, quem irá acreditar? Você sabe por que você é bom naquilo que faz! Você sabe porque deveria estar empregado! Você sabe como ajudar as empresas! Você sabe como ajudar profissionais como você! Você sabe!

4) Não se acomode nunca!

Se você ficou desempregado recentemente, uma de suas primeiras ações foi dar um trato no currículo (e talvez no seu perfil no LinkedIn), certo? Errado! A questão do “conforto” em se estar empregado talvez seja um dos maiores motivos de seu desemprego hoje. Mantenha sempre tudo o que diz respeito a você atualizado, e mesmo que esteja na zona de conforto de um novo emprego, sempre esteja atento à novas oportunidades de negócios e remuneração. Por exemplo: se você já tem uma carreira sólida, dar aulas ou pequenos cursos pode ser o início da construção de um plano B interessante...de outra forma, apostar em outros negócios, pequenas sociedades, ou quem sabe investir em uma franquia ou em uma startup também sejam boas oportunidades...

5) Bônus: a entrevista

Além de tudo o que você já leu hoje sobre entrevistas de emprego, como a roupa ou a postura certa, quando precisar, quero que você guarde essa valorosa dica. Toda negociação é feita entre CPF’s. Isso significa que em todo o processo onde há um acordo, como uma entrevista, na prática é uma questão particular entre você e seu interlocutor. Normalmente não é a empresa (o CNPJ) que não o contratou e sim o recrutador ou o executivo da empresa que não o selecionou. Principalmente se você atende à todas as questões técnicas que a vaga solicita, sua contratação dependerá muito mais de uma empatia direta entre contratante e contratado do que qualquer outro item. Quanto maior a sintonia, maiores suas chances.

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