13 julho, 2016

A cultura da felicidade no ambiente corporativo*

* Por Marleine Cohen

“A felicidade é um modelo de negócio rentável. Pessoas felizes trabalham melhor e geram mais lucro às suas empresas.”

Quem faz a afirmação é o diretor de Educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Luiz Edmundo Rosa, ao retomar as conclusões a que chegou a mais longa pesquisa comportamental jamais realizada no mundo, o Grant Study, conduzido pela Universidade de Harvard a partir de 1938 com 724 pessoas de ambos os sexos. Objetivo da investigação: acompanhar o desenvolvimento do ser humano a partir do impacto da sua saciedade emocional.

Observando uma série de variáveis do público-alvo – desde o relacionamento com os pais na infância até padrões de tendência a vícios, a orientação ideológica e o nível de QI –, o estudo de Harvard também possibilitou um recorte corporativo, permitindo constatar e mensurar o vínculo entre vida pessoal satisfatória, produtividade e êxito profissional: “A razão para o sucesso são os bons relacionamentos. Laços fortes e estabilidade emocional supõem confiança e confidencialidade entre as pessoas e têm enorme influência sobre a saúde do corpo e da mente”, afirma Rosa.

A adaptação dos ensinamentos da pesquisa norte-americana ao mundo corporativo coube a dois catedráticos – o escritor israelense e professor de Psicologia Positiva na Universidade de Harvard Tal Ben-Shahar e a professora de Ciência da Felicidade na Universidade de Monterrey, México, Nicole Fuentes. Ela participará da palestra “Colaboradores mais felizes, empresas mais produtivas”, a ser realizada no dia 16 de agosto durante 42º Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas – Conarh 2016. O evento, promovido pela ABRH, será realizado de 15 a 18 de agosto no Transamérica ExpoCenter.

Segundo os acadêmicos, profissionais satisfeitos com os seus relacionamentos pessoais estão menos propensos a doenças crônicas e problemas mentais e de memória. “Chegam mais cedo ao trabalho, faltam menos, são mais criativos e inovadores, prestam um serviço melhor ao cliente e são capazes de interações sociais mais harmoniosas”, garante Nicole.

Com isso, ainda de acordo com os especialistas, chegam a ganhar até US$ 141 mil a mais por ano, se comparados com os seus pares que amargam algum tipo de frustração, e quando usufruíram de relacionamentos saudáveis com a mãe na infância, têm uma renda média anual US$ 87 mil maior na vida adulta. Em contrapartida, profissionais que alimentam lembranças ruins no que se refere ao convívio com os pais estão mais sujeitos à incidência de demência na velhice.

Livre arbítrio. Segundo Luiz Edmundo Rosa, um dos principais ensinamentos que se sobressai no estudo, é que “a felicidade representa uma responsabilidade pessoal, intransferível”, a despeito de as condições externas serem favoráveis ou não. Em outras palavras, no mundo corporativo é uma condição que independe de benefícios, promoções ou regalias oferecidos pela empresa.

“Desde a Revolução Industrial, partimos da ideia de que os ambientes de trabalho são tóxicos. Esta é uma herança histórica. Por isso, coube às companhias adotarem práticas paternalistas para motivar e encantar seus empregados: ginástica laborial e clubes de lazer são algumas delas”, enumera o diretor da ABRH.

O que a psicologia positiva propõe, é uma nova postura perante a vida e no campo profissional, pelo viés de relações mais harmoniosas. Esta é uma nova tendência nos Estados Unidos.

“Um líder deve ser mais inspirador que autoritário. Deve estabelecer uma relação de troca e confiança com os seus liderados e deixar claro que cabe a cada um a responsabilidade pela própria carreira e sucesso”, explica. Saber lidar com as frustrações e desenvolver a capacidade de não acumular queixas, culpas e mágoas, são, portanto, condições imprescindíveis para uma cultura do pensamento positivo.

Ao líder também cabe, de acordo com Rosa, incentivar seus colaboradores a darem o melhor de si: “Nós perdemos muito tempo focando ora os grupos de talentos, ora os que não são produtivos. Dirigimos o olhar à doença, ao mau desempenho, aos gaps negativos, comparando-os com um padrão de excelência. O que esquecemos, é que existe uma terceira fatia de trabalhadores, que não estão nem em um extremo nem em outro, e que podem se superar e dar mais”.

Para deflagrar relacionamentos saudáveis, ensina Nicole, basta incorporar e replicar na rotina pessoal e de trabalho alguns comportamentos: “Por mais que a felicidade não seja universal, práticas simples como o exercício da generosidade e da gratidão podem ajudar a sintonizar o positivismo”, sustenta ela. Cultivar o otimismo, cuidar da saúde física e mental, dedicar algum tempo a um hobby, nutrir laços sociais e saber desfrutar do momento presente também são atitudes que aumentam o tônus emocional, para benefício do trabalhador e da empresa, garante.

Avaliação de líder envolve bem-estar do time
Citada pela professora Nicole Fuentes como “uma das empresas que mais têm dedicado esforços em prol do bem-estar emocional de seus funcionários, adotando estratégias simples como a promoção da interação social entre eles”, na Google, qualidade de vida e satisfação pessoal são assuntos sérios a ponto de fazer parte da política interna.

Tanto que o googliness – isto é, a capacidade de ser colaborativo e fácil de lidar no trato profissional – representar uma das quatro características avaliadas nos candidatos a um cargo na companhia.

Ferramenta. Segundo Ana Carolina Azevedo, gerente de Recursos Humanos do Google-Brasil, faz parte da cultura da corporação vincular o sucesso do manager à felicidade de sua equipe. “Os próprios diretores têm à disposição ferramentas para mensurar os níveis de satisfação, motivação, cansaço e positivismo em relação ao futuro dos seus colaboradores”, afirma a executiva.

Na empresa, frequentes iniciativas de socialização são adotadas para promover o bem-estar dos trabalhadores: aulas de ioga e de muay tai, fóruns de discussão, semanas culturais, clubes de cultura e piqueniques são algumas delas.

Outra ferramenta à disposição do quadro de funcionários do Google-Brasil é o “G-pause”, aplicativo de livre acesso que ensina a se desconectar para recuperar o equilíbrio emocional.

Paralelamente, a companhia instituiu o “One Simple Thing” – iniciativa que permite a cada funcionário escolher uma atividade pessoal importante para ele, como buscar os filhos da escola duas vezes por semana, e bloquear a agenda de trabalho por conta dela. “Todo mundo respeita esse momento da pessoa e a própria liderança incentiva cada um a ter o próprio momento”, diz Ana Carolina.

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